Nas primeiras notícias de que o apresentador de TV Luciano Huck, o ex-juiz Sérgio Moro e o empresário João Amoêdo estavam dispostos a disputar a sucessão de Bolsonaro, o meu comentário foi de que os três desistiriam antes mesmo do início do ano eleitoral de 2022.
Fui severamente criticado, mesmo dizendo os motivos que levariam os agora ex-presidenciáveis a renunciar da empreitada, do longo caminho para chegar ao maior e mais cobiçado cargo do Poder Executivo.
Deu no que deu: Huck se acertou com a Globo para assumir o lugar de Faustão nas tardes de domingo. Moro é uma espécie de consultor da Odebrecht, naturalmente ganhando um bom salário. E Amoêdo, dirigente-mor do Novo, não conseguiu unir a sigla em torno de sua legítima pretensão de comandar o Palácio do Planalto.
Pelo andar da carruagem, a eleição presidencial vai ficar restrita a Lula (PT), Bolsonaro (sem partido), buscando à reeleição, Ciro Gomes (PDT), João Doria pelo PSDB (ou outro candidato do tucanato) e o ex-ministro da Saúde Mandetta (DEM).
Se a chamada terceira via não se entender em torno de um nome, a polarização entre Lula e Bolsonaro fica mais consolidada. O antipetismo e o antibolsonarismo, que representam uma significativa parcela do eleitorado, caminhando para 60%, se espalham entre as outras opções, o que significa um inevitável segundo turno entre Lula e Bolsonaro.
Essa polarização entre um passado marcado por escândalos de corrupção e um presente sem perspectiva de futuro dentro das regras democráticas, respeitando o Estado de direito, que tem a Constituição como escudo contra ímpetos ditatoriais, vai levar a uma campanha sangrenta.
O título da coluna foi inspirado no comentário da sempre bem informada jornalista Eliane Cantanhêde, na edição de ontem, 16, no Estadão. Veja abaixo o que diz Cantanhêde sobre a disputa Lula versus Bolsonaro.
” Será uma campanha sangrenta, com acusações de corrupção, ameaças à democracia e risco de um grande fuzuê depois da abertura das urnas. O que, obviamente, aumenta ainda mais a ansiedade por opções de centro e a responsabilidade dos que merecem ser chamados de líderes”.
O Brasil, que precisa de paz, harmonia e muito diálogo com todos os segmentos não só da sociedade como do mundo da política, não pode ficar nessa encruzilhada de uma polarização entre o “mito” da direita e o “mito” da esquerda.
Marco Wense é Analista Político