Leia em: 3 minutos
Do tripé que sustenta a segunda colocação do presidente Bolsonaro nas pesquisas de intenções de voto, formado por uma parte do segmento evangélico, setores do empresariado e pelo eleitorado ideologicamente de extrema direita, os dois primeiros começam a desmoronar.
O religioso ficou espantado com alguns posicionamentos do chefe do Palácio do Planalto em relação à gravíssima crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus, principalmente no explícito e irresponsável negacionismo da maior autoridade do Poder Executivo, que teima em não usar máscara e provoca aglomerações que poderiam ser evitadas.
Se dependesse exclusivamente de Bolsonaro, com seu chega pra lá na ciência, acreditando mais nos medicamentos sem comprovação científica de eficácia do que nas vacinas, a pandemia estaria descontrolada e, como consequência, um maior número de óbitos, de vidas humanas ceifadas pelo cruel, devastador e traiçoeiro vírus.
Quanto ao empresariado, e aí me refiro não só aos grandes como também aos médios e pequenos, mais especificamente aos defensores do Estado democrático de direito, contrários a qualquer devaneios golpistas, já há uma forte rejeição ao presidente de plantão. Dias atrás, com um manifesto intitulado “Eleições Serão Respeitadas”, quase 300 empresários de peso, junto com intelectuais, diplomatas e vários representantes da sociedade civil e organizada, divulgaram um documento pedindo respeito à democracia, a garantia da realização das eleições de 2022. A principal herdeira do Itaú, como estivesse representando os banqueiros, disse que “parte da elite se afastou de Bolsonaro e não vai embarcar em aventura”.
Essas atitudes de Bolsonaro, insinuando que pode agir fora dos limites constitucionais, afrontando a nossa Lei Maior, vem afastando investimentos internacionais no Brasil, o que contribui para o aumento do já gigantesco desemprego. Ninguém quer correr o risco de investir em um país que tem um governo totalmente perdido, sem projeto, sem rumo, sem harmonia com as imprescindíveis instituições. Um país que tem os Poderes da República se atritando.
No tocante ao bolsonarismo de raiz, esse vai continuar fiel ao “mito”, independente de qualquer fato. Nesse ponto, bolsonaristas e lulopetistas são bem parecidos. Vale lembrar que ainda tem petistas que acreditam que o então presidente Lula não sabia da corrupção que tomava conta do seu governo, com destaque para o mensalão.
Como não bastasse, tem o inquestionável fato de que o governo Bolsonaro está refém do Centrão, vivendo sob à ameaça de ter que atender o toma lá, dá cá, sob pena de alguns pedidos de impeachment saírem da gaveta. Quem tem a prerrogativa de desengavetá-los é Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, filiado ao PP, principal sigla do Centrão.
Concluo dizendo que com os dois pés do tripé cada vez mais inconsistentes, o segundo mandato de Bolsonaro, via instituto da reeleição, vai ficando difícil e, pelo andar da carruagem, até mesmo sua ida para o segundo turno.
Marco Wense é Analista Político
*A análise do colunista não reflete, necessariamente, a opinião de Pauta.blog.br