A pesquisa do instituto Datafolha, divulgada ontem, quarta, 12 de maio, foi ótima para Lula (PT), boa para Ciro Gomes (PDT) e péssima para o presidente Bolsonaro (sem partido), cuja reeleição vai ficando cada vez mais difícil.
Essa dificuldade em conquistar o segundo mandato consecutivo, mesmo quando Bolsonaro estava na frente, já foi comentada aqui por duas, três ou quatro vezes. Os bolsonaristas, mais especificamente os de “raiz”, me chamaram de lunático, que eu estava vivendo em outro planeta.
A Coluna Wense dizia que o índice de rejeição a Bolsonaro, com a irresponsabilidade no enfrentamento da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, assentada em um inominável negacionismo científico, iria crescer. Que a queda na popularidade do chefe do Executivo era só uma questão de tempo, o que colocaria sua presença no segundo turno não mais como favas contadas.
Não vou citar os números da enquete, amplamente favoráveis ao petista-mor. Já são do conhecimento de todos que acompanham a política. O ponto questionável, que termina provocando dúvidas em relação à credibilidade do Datafolha, diz respeito ao segundo turno.
O instituto faz uma projeção da segunda etapa eleitoral entre Lula e João Doria, pré-candidato do tucanato, obviamente do PSDB. O governador de São Paulo ocupa a sexta posição na consulta.
Ora, o Datafolha, propositadamente, sei lá com que intenções, não simula uma disputa de segundo turno entre Lula e Ciro Gomes, que é o único postulante ao Palácio do Planalto que pode quebrar essa polarização rancorosa e odienta entre o ex-presidente e o atual, entre um passado marcado por escândalos de corrupção e um governo que despreza a ciência, que passou a ser refém do Centrão, do toma lá, dá cá.
Deixar de lado uma simulação entre Lula e Ciro, além de ser inaceitável, provoca suspeitas sobre a seriedade do instituto. A pergunta continua viva: Por que o Datafolha não faz uma simulação de segundo turno entre Lula e Ciro?
Fica parecendo que o instituto torce pelo pré-candidato do PT, escondendo a possibilidade do antipetismo caminhar em direção a Ciro, o que o levaria para o segundo turno e, como consequência, a manchete estampada nos jornais: BOLSONARO FORA DO SEGUNDO TURNO.
Ciro derrotaria Lula, tendo o antipetismo como o maior e invejável cabo eleitoral. Vale lembrar que o lulopetismo, pelo menos a ala mais lúcida e realista, prefere enfrentar Bolsonaro, treme de medo de um debate entre Lula e Ciro. Acha, e com toda razão, que um tête-à-tête pode tirar milhares de votos do ex-presidente.
Na cúpula do lulopetismo, o consenso é que o PT não deve fazer nenhum esforço para viabilizar o impeachment de Bolsonaro. Não à toa que o senador Jaques Wagner, pré-candidato ao governo da Bahia, ficou contra a CPI da Covid-19. Até as freiras do convento das Carmelitas sabem que Wagner teve o consentimento de Lula. Não iria tomar uma decisão dessa envergadura sem ouvir o chefe, sob pena de tomar um puxão de orelha. É o manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Concluo o comentário com a mesma pergunta que fiz em um dos parágrafos acima : Por que o Datafolha não faz uma simulação entre Lula e Ciro em uma eventual disputa no segundo turno?
Não quero acreditar que o instituto, em decorrência dos insultos do presidente Bolsonaro contra os jornalistas da Folha de São Paulo, esteja querendo se vingar do “mito” fazendo campanha para o “Deus Lula”. Para não misturar política com religião, o “mito” da esquerda.
PS (1) – No tocante ao quesito rejeição, Lula e Bolsonaro estão disparadamente na dianteira. A situação é mais preocupante para o bolsonarismo, já que cresce a parcela do eleitorado que acha que muitas mortes poderiam ser evitadas se o governo federal tivesse adquirido as vacinas no começo da primeira onda da pandemia. Vale lembrar que caminhamos a passos largos para atingir 500 mil vidas ceifadas pela cruel e devastadora covid-19.
PS (2) – E por falar na alta rejeição de Bolsonaro, matéria da Folha de São Paulo diz que “canetada eleva salário de Bolsonaro e ministros em até 69% e estoura teto do funcionalismo”. A remuneração mensal pode chegar a R$ 66 mil.
Marco Wense é Analista Político