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A entrevista de ontem, sábado, 27, de Ciro Gomes na Folha de São Paulo, deixou o PT, mais especificamente o chamado lulopetismo, irritado com o pré-candidato do PDT à sucessão presidencial de 2022.
O ponto principal do resmungo, da revolta dos petistas, foi Ciro afirmar que sua maior tarefa é derrotar o PT no primeiro turno. Para Ciro, quem for para a segunda etapa do processo sucessório contra Bolsonaro tende a derrotá-lo, “mas o menos capaz disso é o PT”.
Ora, Ciro tem toda razão. O maior cabo eleitoral do então candidato Jair Messias Bolsonaro, em 2018, foi o gigantesco e enraizado antipetismo. E vai continuar sendo no pleito de 2022. De 10 bolsominions, 10 querem enfrentar um petista no segundo turno.
Para o bolsonarismo, principalmente o de raiz, o lulopetismo é quem pode levar o “mito” a conquistar o segundo mandato consecutivo, permanecendo por mais quatro anos no maior e mais cobiçado cargo do Poder Executivo, sem dúvida o de presidente da República.
O que achei engraçado foi o PT questionar a busca do entendimento de Ciro com legendas do centro com viés à direita, como o DEM de ACM Neto, presidente nacional do demismo, e o PSD do senador Otto Alencar, liderança-mor estadual da sigla.
O petismo é mesmo hilariante. Acha que o telhado do partido não é de vidro, que aguenta qualquer tamanho de pedra. O PT continua se achando, a soberba é a mesma. Nada mudou. Só o PT pode fazer alianças para chegar ao poder. As outras agremiações partidárias quando procuram o diálogo com outros campos ideológicos são logo criticadas.
Não vou nem falar da base aliada do governador Rui Costa, formada por legendas que dão sustentação política ao governo Bolsonaro e fazem parte do Centrão, que tem o PP do vice-governador João Leão como o partido da linha de frente do toma lá, dá cá. Uma espécie de porta-voz.
Ora, na eleição presidencial de 2002, o PT fez aliança com todos que a legenda sempre dizia que jamais faria. Para se aproximar dos políticos que o petismo declarava que eram da “banda podre”, inventaram até um “Lulinha Paz e Amor”.
Com o “Lulinha Paz e Amor”, as portas ficaram escancaradas para receber os novos e inusitados apoiadores. De repente, a fila começou a ser formada para uma conversinha de pé de orelha com o petista-mor. Um atrás do outro e todos risonhos: José Sarney, Orestes Quércia, Delfim Neto… Um tempo depois, Paulo Maluf e companhia Ltda.
Na sucessão de 2018, Fernando Haddad, que foi o pior prefeito da história de São Paulo, que sequer chegou a ir para o segundo turno na tentativa de se reeleger, perdendo em todas as urnas para o então adversário João Doria (PSDB), se aliançou com os principais protagonistas do impeachment de Dilma Rousseff, desfilando em carro aberto com o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Concluo dizendo que o PT não tem moral para falar das articulações de Ciro buscando o fortalecimento de sua candidatura. O lulopetismo, quando o assunto é chegar ao poder, faz de tudo e, depois, no maior cinismo, ainda diz que o momento exigia a procura das composições. Ora, só existe esse momento para o PT? Para as outras legendas é oportunismo e incoerência? Esse PT, hein!
O que o lulopetismo deveria estar fazendo, e que até agora sequer rascunhou o primeiro parágrafo, é uma carta ao povo brasileiro pedindo desculpas pelos escândalos nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Vana Rousseff.
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Marco Wense é Analista Político
*A análise do colunista não reflete, necessariamente, a opinião de Pauta.blog.br