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O objetivo é que todos percebam o privilégio que é compartilhar o ambiente com uma espécie magnífica e que compreendam a responsabilidade e o papel de cada um de nós decorrente desta vantagem

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Presentes ao longo de nossa costa entre o inverno e a primavera, quando vêm da região antártica para acasalar, parir e amamentar seus filhotes, as baleias jubartes já estiveram à beira da extinção por causa da caça indiscriminada praticada desde o período do Brasil-Colônia até a segunda metade do século passado.

A baleia jubarte, com a sua graciosidade, grandiosidade e carisma, é um ícone para abordar questões que ocorrem nos ecossistemas marinhos. Através do Projeto Baleias na Serra, professores/pesquisadores da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) se empenham para que todos percebam o privilégio que é compartilhar o ambiente com uma espécie magnífica e que compreendam a responsabilidade e o papel de cada um de nós decorrente desta vantagem.

O Projeto Baleias na Serra teve início em 2013, com o desenvolvimento de uma tese de doutorado da pesquisadora Maria Isabel Gonçalves no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade (PPGECB) da Uesc, que teve a orientação do professor Julio Baumgarten (Uesc) e da professora Renata Sousa-Lima da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Esse trabalho confirmou que a região de Serra Grande é usada como área reprodutiva das baleias jubarte. Também observamos que o uso do habitat se modifica ao longo da temporada, uma vez que as baleias vão se aproximando da costa com o passar dos meses, principalmente devido ao nascimento dos filhotes que normalmente ocorre a partir de agosto e que precisam de águas mais tranquilas para crescerem nos primeiros meses da sua vida,” explica Isabel.

De acordo com o professor Julio Baumgarten, com a recuperação da população das baleias jubarte na costa brasileira nos últimos 20 anos, começou a ser comum observá-las em toda a costa baiana e existia uma lacuna de conhecimento de como elas usavam a área a norte do Banco dos Abrolhos. Entre os meses de julho e outubro, as baleias migram para as águas quentes e protegidas do Brasil para se reproduzir.

“A Vila de Serra Grande localizada entre Ilhéus e Itacaré possui características singulares como a presença de morros altos perto da linha da costa, e uma plataforma continental muito estreita. Isso leva a aproximação das baleias que podem ser observadas a partir de terra sem que haja interferência no seu comportamento, através dos monitoramentos visual e acústico passivo” acrescenta o professor Julio.

Os coordenadores do projeto ressaltam que duas dissertações de mestrado finalizadas em 2020, como da Mariana Campelo e Bianca Righi, são frutos destes monitoramentos. “O canto das jubartes é produzido apenas pelos machos e está associado à seleção sexual. Observamos que a atividade vocal dos machos é maior à noite e acompanha a flutuação de número total de baleias presentes ao longo da temporada, com o seu pico entre final de agosto e início de setembro. E, apesar de Abrolhos ser a área de maior concentração da espécie no Brasil, através da comparação de dados coletados pelo Instituto Baleia Jubarte/Instituto Verde Azul, vimos que os padrões de movimento das jubartes são similares aos registrados em Serra Grande” ressaltou Isabel.

No ambiente aquático, a velocidade de propagação do som é muito maior do que no ar, e todos os sons e ruídos presentes no Oceano, de origem natural ou antrópica, fazem parte da paisagem acústica. “Está em andamento um estudo para a construção de uma linha de base para a paisagem acústica da região, com os dados já coletados antes de se iniciarem as obras marítimas do novo porto, a ser construído ao sul da nossa área de estudo, que é dominada por coros de baleias e de peixes” mencionou Julio Baumgarten sobre o trabalho de mestrado da discente Tamires Fernandes do PPGECB.

“A continuidade do monitoramento é essencial para entendermos o que acontece na área. Dessa maneira, alterações devido às mudanças climáticas e atividades antrópicas podem ser detectadas para propor e ajustar medidas mitigatórias. Desde que começamos o monitoramento há mais de 6 anos, continuamos a observar o aumento do número de baleias presentes a cada ano, o que é bastante animador” finalizou a Isabel.

O PROJETO
O Projeto Baleias na Serra é executado pelo Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação (Leac/Uesc) com o apoio administrativo do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSul) e o apoio logístico do Mirante de Serra Grande. Ele tem sido viabilizado financeiramente por recursos financeiros obtidos por doações privadas, por grants da Cetacean Society International, The Rufford Foundation, Instituto Verde Azul e Uesc, e por bolsas, recebidas pela equipe, provenientes da Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e Uesc.

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