A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o então juiz Sérgio Moro foi parcial ao condenar o ex-presidente Lula, no âmbito da Operação Lava Jato, deixou o lulopetismo eufórico. O discurso do “já ganhou” volta com toda força. Tem até petista achando que a fatura vai ser liquidada logo no primeiro turno.
A principal consequência política do julgamento da Alta Corte, instância máxima do Poder Judiciário, é a desistência de Sérgio Moro em disputar à presidência da República. O ex-juiz, que foi agraciado com um cargo no governo Bolsonaro, o de ministro da Justiça e Segurança Pública, foi atingido naquilo que é imprescindível em um julgador: a imparcialidade.
Além de comemorarem o reforço da elegibilidade de Lula, os petistas acham que a candidatura de Ciro Gomes não é mais consistente, que a sucessão de 2022 será polarizada entre Bolsonaro e Lula, que dificilmente aparecerá um postulante que possa enfrentar o petismo e o bolsonarismo.
Ledo engano. Com Lula no jogo, a necessidade de uma terceira via fica mais acesa. Os que não querem a volta do passado e a permanência de Bolsonaro por mais quatro anos, o que seria um desastre, vão se juntar, chegar a um consenso em torno de uma opção que possa dar de frente com o lulopetismo e o bolsonarismo, não só na viabilidade eleitoral como na experiência. O Brasil não pode ficar mais no “se correr o bicho pega (o retorno de Lula), se ficar o bicho come (à reeleição de Bolsonaro).
Outras correntes políticas, de centro, centro-esquerda e centro-direita, que não querem o radicalismo ideológico, um pleito presidencial marcado por muito ódio e troca de ofensas e acusações, de um lado os bolsonaristas lembrando os escândalos dos governos do PT e o petismo chamando Bolsonaro de genocida, tendem a se unir em torno de uma candidatura, sob pena do pleito ficar realmente polarizado.
É aí que entra Ciro Gomes, presidenciável do PDT, que pode representar a terceira via, o não a Lula e a Bolsonaro, o movimento que começa a tomar corpo com a decisão do STF: NEM LULA, NEM BOLSONARO. Vale lembrar que Ciro, na última sucessão presidencial, obviamente a de 2018, com apenas 30 segundos no horário eleitoral e quase que sem nenhum investimento nas mídias sociais, ficou em terceiro lugar, na frente do então poderoso candidato Geraldo Alckmin (PSDB).
Além das legendas que podem integrar a terceira via, tem também o importante fato de que o gigantesco e enraizado antipetismo e antibolsonarismo caminham para atingir 60% do eleitorado, o que consolida a opinião de que o “já ganhou” é prematuro, intempestivo e infantil.
A sucessão de Bolsonaro ainda está muito longe de tomar um contorno mais transparente. O processo sucessório vai ficar por muito tempo envolto por um nevoeiro. Só em 2022, depois das águas de março fechando o verão, é que teremos um cenário com uma formatação mais delineada.
Portanto, toda euforia é desaconselhável. No emaranhado jogo político, com suas surpresas e sobressaltos, o “já ganhou” pode se transformar em “já perdeu”.
PS – O principal assunto de hoje, sem dúvida o que vai ser mais discutido, é a “jogada de toalha” do presidente Bolsonaro. O chefe do Palácio do Planalto resolveu se reunir com os governadores que adotaram o toque de recolher, que são defensores das medidas restritivas para combater o cruel e matador novo coronavírus. Vale lembrar que Bolsonaro é um ferrenho opositor não só do distanciamento social como de outra iniciativas para atacar o vírus. Agora é esperar como vai reagir o chamado bolsonarismo de raiz com essa reunião, principalmente se o governador Rui Costa (PT) sentar ao lado da maior autoridade do Poder Executivo.
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Marco Wense é Analista Político