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BOLSONARO E O SEGUNDO MANDATO

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A situação do presidente Jair Messias Bolsonaro, no que diz respeito à reeleição, está ficando cada vez mais complicada e já provocando um nítido começo de desânimo.

A insatisfação com o governo, principalmente com a irresponsabilidade diante da crise sanitária e humana provocada pela pandemia do novo coronavírus, cresce em projeção geométrica. São milhares de eleitores se dizendo arrependidos por terem votado no “mito”.

O chefe do Palácio do Planalto só conta hoje com o chamado bolsonarismo de raiz, com alguns influentes segmentos evangélicos e uma parte do antipetismo, cuja grande maioria caminha em direção ao movimento “Nem Lula, Nem Bolsonaro”, buscando uma opção que possa quebrar a polarização do lulopetismo versus bolsonarismo. Esse gigantesco eleitorado não quer a volta de um passado marcado por escândalos de corrupção e a continuação de um presidente que o Brasil não merece.

No tocante ao chamado bolsonarismo de raiz, não à toa que Bolsonaro é arredio com os conselhos de que é preciso mudar. Qualquer desvio de comportamento pode provocar rachaduras na parede desse eleitorado que lhe é cegamente fiel. É Deus no céu, Bolsonaro na terra.

O inferno astral que toma conta do governo se espalha para todos os lados. O diretor executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mike Ryan, disse na última quarta,14, que o Brasil é exemplo maior da “perda de controle” na luta contra a Covid-19. Lá fora, o Brasil já é conhecido como o “cemitério do mundo”.

A impressão que se tem é que o governo subiu no ringue para enfrentar o cruel vírus e, ao perceber que a Covid-19 não era uma “gripezinha” e nem um “resfriadinho”, jogou a toalha.

O presidente Bolsonaro vive a agonia do dia a dia. O fantasma do impeachment não deixa de rondar o Palácio do Planalto. Por enquanto sem mostrar a cara, mas já se preparando para fazer o que mais sabe: afastar o presidente da República de plantão, sem dó e piedade.

Em decorrência da CPI da Covid-19, que tem como relator o senador lulista Renan Calheiros (MDB-AL), principal protagonista do impeachment de Dilma Rousseff (PT), outros pedidos de afastamento, agora mais consistentes por se tratar de vidas humanas, serão protocolados no Congresso Nacional.

Para aumentar a dor de cabeça da maior autoridade do Poder Executivo, tem o imbróglio da aprovação do orçamento, que segundo Paulo Guedes, ministro da Economia, se for aprovado como se encontra é crime de responsabilidade e, como consequência, mais um pedido de impeachment.

No entanto, o problema mais grave do governo Bolsonaro é a cada vez mais dependência com o toma lá, dá cá. O chefe do Executivo é hoje um refém do Centrão, assim como foi Dilma e Michel Temer. Deu no que deu: traição e impeachment.

Digo sempre que a sorte de Bolsonaro é ter um Hamilton Mourão como vice. O general fica na dele. É o ponto de equilíbrio do governo. Já pensou se o vice de Bolsonaro fosse um Michel Temer?

O segundo mandato do presidente Bolsonaro, que já foi dado como favas contadas pelo bolsonarismo, é hoje incerto. Até mesmo sua ausência em um segundo turno já não é mais uma opinião sem pé e cabeça, que pode ser literalmente descartada.

Um nome da terceira via, se não houver uma reviravolta no governo Bolsonaro, mais especificamente em relação à pandemia, pode disputar a segunda etapa eleitoral com o candidato do PT, obviamente o ex-presidente Lula.

Como o processo político lembra o formato das nuvens, como dizia o já falecido Magalhães Pinto, a torcida do bolsonarismo é para que a terceira via não se entenda em torno de uma candidatura de consenso.

Concluo dizendo que se houver um só candidato representando o movimento “Nem Lula, Nem Bolsonaro”, o presidente pode ficar fora do segundo turno.

PS – Uma eventual disputa de segundo turno entre Lula e o candidato da terceira via vai ser acirrada. O lulopetismo precisa entender que esse “já ganhou” é desaconselhável. O antipetismo, além de gigantesco, está enraizado e parece irreversível, corresponde a mais de 60% do eleitorado. 

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Marco Wense é Analista Político

*A análise do colunista não reflete, necessariamente, a opinião de Pauta.blog.br

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