O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, quinta,15, que tem carinho e respeito por Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à sucessão de 2022, na disputa pelo comando do Palácio do Planalto.
Ora, até as freiras do convento das Carmelitas sabem que o petista-mor, quando o jogo é a conquista do poder, passa por cima de tudo e de todos, até os “companheiros” são aniquilados sem dó e piedade. É o manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Lula já ordenou que o governador Rui Costa esqueça o Senado e cumpra seu mandato até o último dia de governo. Não há espaço para o contraditório e, muito menos, para as lamentações.
Lula nunca teve carinho e respeito por ninguém, muito menos por Ciro. O que ele fez no pleito presidencial de 2018 é a prova inconteste do seu avermelhado maquiavelismo. Vale lembrar que toda malvadeza contra Ciro foi arquitetada de dentro da cadeia. Imagine agora com o Lula livre e elegível.
Depois que assoprou, Lula mordeu. Disse que Ciro “está fazendo uma inflexão política equivocada nas críticas à esquerda”. A intenção aí é jogar as legendas desse campo ideológico contra o ex-governador do Ceará, mais especificamente o PSB.
As críticas de Ciro sempre apontaram para a esquerda lulopetista, principalmente no item da roubalheira e dos vários escândalos do então governo Lula, sendo o mensalão e o petrolão como os mais assombrosos. E olhe que o PT não expulsou ninguém, sequer uma nota de repúdio contra os larápios dos cofres públicos.
Declarou também que Ciro não sabe perder, que deveria aprender com o “velho Brizola”, lembrando o que o fundador do PDT dizia quando perdia uma eleição : “Eu vou me recolher e lamber as minhas feridas”.
Ora, Lula esquece que o saudoso e inesquecível Leonel de Moura Brizola levou com ele a decepção com o “sapo barbudo”, que depois de usar o prestígio e a companhia do bom gaúcho para alavancar suas pretensões políticas, o apunhalou várias vezes pelas costas.
Sobre à gigantesca corrupção nos seus dois governos, que é o ponto que vai ser mais explorado na campanha presidencial, ficou bem claro que Lula não vai pedir desculpa ao povo brasileiro. Alegou que não vai fazer oposição a ele mesmo, que esse papel é do oposicionismo.
O engraçado é que algumas lideranças do lulopetismo têm cobrado do presidente Bolsonaro, cada vez mais longe de um segundo mandato via instituto da reeleição, uma reflexão sobre seus erros em relação à pandemia do novo coronavírus. Ora, a maior autoridade do Poder Executivo pode pegar carona no argumento de Lula, dizendo que não vai fazer oposição a ele mesmo.
Volto a dizer que o Brasil precisa sair dessa polarização do lulopetismo versus bolsonarismo, sob pena de termos um processo sucessório presidencial com uma disputa assentada no ódio e na troca de ofensas.
O Brasil merece um outro caminho, um novo rumo.
PS – O PT, sob à orientação de Lula, trabalhou contra a instalação da CPI da Covid-19. O lulopetismo é também adversário do impeachment. Lula sabe que o fim da polarização, com o surgimento de uma terceira via, fortalece o movimento “Nem Lula, Nem Bolsonaro”. A torcida do PT é para que Bolsonaro não saia muito enfraquecido nas investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito.
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Marco Wense é Analista Político