O agora ministro da Cidadania do governo Bolsonaro, João Roma, filiado ao Republicanos, partido ligado a Igreja Universal do Reino de Deus, resolveu, politicamente falando, cuspir no prato que comeu.
Roma, que é cria política de ACM Neto (DEM), disse, se referindo à sucessão estadual de 2022, que seu criador, o ex-prefeito de Salvador por duas vezes, vai ficar no “limbo”. Só faltou insinuar que sequer irá para o segundo turno.
Não sei dizer se o ministro, pré-candidato a ser o morador mais ilustre do Palácio de Ondina, já foi a Roma visitar o papa. Mas de uma coisa tenho certeza: a possibilidade de encontrar uma pequena agulha em um grande palheiro é muito maior do que Roma ser o próximo governador da Boa Terra.
E tem mais: se não tomar cuidado, ficar nessa soberba, empolgado por ser do primeiro escalão do bolsonarismo, o feitiço vai terminar virando contra o feiticeiro: será o “limbo” do processo sucessório.
Vale lembrar, pelo menos para os incautos, e aí incluo o próprio Roma, que quem coloca Bolsonaro na segunda posição nas pesquisas de intenções de voto são os bolsominions chamados de raiz, os que representam de verdade a extrema direita e seguem cegamente o “mito”. Essa fatia do bolsonarismo quer a médica Raíssa Soares, secretaria de Saúde de Porto Seguro, como candidata.
Em comum entre Raíssa e Bolsonaro, não só o fato de serem fervorosos defensores do tal do Kit Covid, do combate ao novo coronavírus com medicamentos sem nenhuma comprovação científica de eficácia, como também de pertencerem ao Movimento dos Sem Partidos (MSP). Ideologia eles já têm. Só precisam de um abrigo partidário.
Roma achar que pode ter mais votos do que ACM Neto é, no mínimo, o cúmulo da ingenuidade. É amadorismo na veia. Chega até ser uma gigantesca idiotice e imbecilidade. Uma medalha de bronze na disputa pelo mais cobiçado cargo do Poder Executivo estadual já é de bom tamanho.
Roma, cujo os pés estão fora do chão, também desdenhou a candidatura do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Disse que vai ser “consumida” pela polarização Lula versus Bolsonaro, o “mito” da esquerda contra o da direita. O ministro tem como favas contadas a vitória de um ou do outro, não havendo espaço para um nome da terceira via.
Ora, ora, o senhor ministro esquece que está diante de uma polarização entre ACM Neto e Jaques Wagner, representante do lulopetismo. Essa polarização é muito mais sólida do que a dos “mitos” nacionais. O risco da pré-candidatura de Roma virar “limbo” é gigantescamente maior do que a de Ciro Gomes. Sem falar que o pedetista é infinitamente mais preparado do que a cria política do netismo. Roma diante de um Ciro é um político minúsculo.
É assim mesmo. A política tem dessas coisas. João Roma, que é o que é hoje graças ao padrinho político, agora diz que a candidatura de Neto vai para o “limbo”.
Ingratidão é a pior das decepções políticas.
Marco Wense é Analista Político