O cacau, principal produto agrícola do sul da Bahia, é uma planta bastante sensível a limiares de temperatura e precipitação. Essa exigência climática explica em parte o sucesso da lavoura nesta região que, por quase dois séculos, tem sido a principal produtora de cacau no Brasil.
Uma modelagem feita pela equipe do Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação (Leac) da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) mostra que vai haver uma grande mudança no regime de precipitação e de temperaturas extremas que devem comprometer a adequabilidade climática da região ao cultivo do cacau. Isso ocorre porque os cacaueiros são particularmente sensíveis à deficiência hídrica e temperaturas extremas e, portanto, exceder estes limites de tolerância leva à mortalidade de árvores jovens e à perda de rendimento.
O estudo analisa que o impacto destas mudanças climáticas seria alterado a depender do tipo de sistema de cultivo, especificamente, o cacau produzido em agroflorestas tradicionais, as chamadas cabrucas, ou através do sistema de monocultivo a pleno sol, uma tendência em outras regiões devido à maior produtividade em curto prazo. Segundo a pesquisa, independentemente do sistema de cultivo, haverá uma perda da área climaticamente adequada para a produção de cacau nos dois cenários climáticos, mas essa perda será muito maior caso o cacau a pleno sol predomine.
Apenas 26% da área atual vai ser climaticamente viável para produzir cacau a pleno sol. Por outro lado, se as plantações se mantiverem no sistema cabruca, 63% da área ainda terá adequabilidade climática para o cacau, ou seja, existe um importante papel do sombreamento para manter a estabilidade climática da plantação para esse fruto.