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OS DILEMAS CONTINUAM ENTRE RUI E OTTO

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O título do comentário de hoje está no plural porque envolve duas expressivas lideranças políticas: o governador Rui Costa (PT) e o senador Otto Alencar (PSD).

O também senador Jaques Wagner e ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ficam de fora dessa angustiante dúvida diante do processo sucessório estadual, da disputa pelo cobiçado comando do Palácio de Ondina.

O ex-governador Jaques Wagner, que é o petista da Bahia mais próximo do ex-presidente Lula, já decidiu seu caminho. Sua candidatura ao governo do Estado no pleito de 2022 é irreversível, favas contadas, 2+2=4.

Não tem nenhum “porém” na pretensão de Wagner. Nada que possa demovê-lo da intenção de governar a Boa Terra pela terceira vez, salvo algum acidente de percurso que justifique sua desistência.

Em relação a ACM Neto, qualquer recuo pode significar o começo de um desgaste que pode durar por muito tempo. Vale lembrar que o ex-gestor soteropolitano deixou várias feridas – muitas delas ainda não cicatrizadas – em decorrência da sua decisão de não sair candidato na sucessão de 2018.

Cito o exemplo de dois postulantes, um para a Assembleia Legislativa e o outro à Câmara Federal, que culpam Neto por não se reelegerem, respectivamente Augusto Castro, atual prefeito de Itabuna, e o demista José Carlos Aleluia, que volta e meia ameaça romper com o netismo. Augusto deixou o PSDB e foi para o PSD. Aleluia permanece no DEM.

Essas opiniões de que ACM Neto vai ser vice de Bolsonaro e que vai desistir da disputa pelo maior cargo do Poder Executivo estadual visam enfraquecê-lo e, por tabela, atrair os pré-candidatos da oposição a deputado federal. Uma espécie de terrorismo político.

Quanto a Rui Costa, o dilema continua: disputar ou não o Senado da República? Já disse inúmeras vezes que a cúpula do lulopetismo não confia no vice-governador João Leão, que ficaria seis meses como governador com a desincompatibilização de Rui. Leão é do PP, que é a legenda mais bolsonarista do Congresso. O presidente nacional da sigla, o senador Ciro Nogueira, um dos ferrenhos defensores do governo federal na CPI da Covid-19, é adepto do “Deus no céu, Bolsonaro na terra”. Com efeito, o próximo passo é criar obstáculos para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o tal do orçamento secreto de R$ 3 bilhões, já apelidado de “bolsolão”, que rima com petrolão e mensalão, os dois maiores escândalos dos governos do PT.

E Otto Alencar, dirigente-mor do PSD da Bahia, como fica nessa composição da chapa majoritária se Rui Costa resolver disputar o Senado? Vai se contentar em ser vice de Wagner, como quer a instância maior do lulopetismo? O cargo de vice é muito pequeno para Otto, que merece ser tratado com mais respeito. Otto como vice de Wagner é o começo da sua decadência política. Não podemos esquecer do compromisso de Rui com a reeleição de Otto, que faz um bom trabalho no Parlamento, tido como um senador atuante, incisivo, coerente e firme nas suas colocações.

Outro ponto que não pode passar despercebido, é que qualquer manobra contra à reeleição de Otto pode afastar de vez um eventual apoio do PSD à candidatura presidencial do agora “ficha limpa” Lula e, como consequência, aproximar a sigla, sob a batuta de Gilberto Kassab, do presidenciável Ciro Gomes (PDT).

Os dilemas da sucessão estadual estão no colo de Rui Costa e de Otto Alencar. A grande expectativa gira em torno da reação de Otto se ficar de fora da majoritária na vaga para o Senado.

Francamente, como diria o saudoso e inesquecível Leonel de Moura Brizola, não acredito que o senador Otto Alencar aceite ser apequenado pela soberba e esperteza do lulopetismo. 


Marco Wense é Analista Político

*A análise do colunista não reflete, necessariamente, a opinião de Pauta.blog.br

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