O ex-alcaide de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM, resolveu só pensar nele. Com um piscar de olhos, sem se preocupar com os que estão ao seu redor, virou adepto fervoroso do primeiro eu, depois também eu. É o ACM Neto, digamos, “murici”, defensor de que cada um cuide de si e os outros que se danem.
ACM Neto deixou, pelo menos de fato, nas suas atitudes, de ser o representante dos democratas para defender seus próprios interesses políticos, sempre de olho no que é melhor para ele em detrimento de outras lideranças da sigla que já procuram outro abrigo partidário.
Está ficando politicamente isolado não só em termos de companhia física como em relação aos partidos. Cito o MDB e PSDB como exemplos de que ACM Neto vai caminhando para ficar sozinho.
A Executiva nacional do emedebismo, presidida por Baleia Rossi, que foi derrotado na eleição da Câmara dos Deputados, não anda nada satisfeita com o ex-gestor soteropolitano, que trabalhou intensamente pela vitória de Arthur Lira (PP), o candidato do presidente Jair Messias Bolsonaro. Esse apoio não explícito, mas bem escancarado nos bastidores, levou Rodrigo Maia, amigo de mais de 20 anos, chamar Neto de “traidor”, que faltou “caráter” ao agora ex-correligionário. “Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado, ele entregou a nossa cabeça numa bandeja ao Palácio do Planalto”, desabafou Maia.
Como não bastasse o MDB, com toda razão tiririca da vida com ACM Neto, tem o PSDB do ex-presidente FHC e de João Doria, governador de São Paulo. O tucanato já mandou avisar que não quer conversa com Bolsonaro, dando assim um recado bem direto para o netismo.
Como não tem mais diálogo com o comando nacional do MDB, legenda importante em qualquer sucessão estadual, ACM Neto tenta amenizar na planície, na Boa Terra, longe de Brasília, o imbróglio que ele mesmo criou. Seu último encontro foi com o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, que mesmo com tantos problemas na Justiça, continua tendo forte influência no emedebismo baiano.
A sabedoria popular costuma dizer que a esperteza, quando é demais, costuma engolir o esperto. ACM Neto quer ser bolsonarista nos bastidores e, de público, ficar dizendo que não tem nenhum compromisso com o presidente Bolsonaro. Ora, até as freiras do convento das Carmelitas sabem que o plano B de ACM Neto é ser vice de Bolsonaro no pleito de 2022. Para que isso ocorra, só precisa que as pesquisas de intenções de voto apontem que o segundo mandato consecutivo do chefe do Executivo, via instituto da reeleição, tem boas chances.
Venho dizendo que ACM Neto só vai disputar o governo da Bahia se houver uma cisão na base aliada do governador Rui Costa (PT), um racha que venha provocar uma mudança significativa no cenário eleitoral. Se PT, PSD e PP se entenderem em torno da composição da chapa majoritária, ACM Neto desiste da candidatura. Vale lembrar que essa união na base aliada, com um por todos, todos por um, depende do senador Jaques Wagner, que terá que abrir mão da sua pretensão de governar a Bahia pela terceira vez. Uma chapa encabeçada por Otto Alencar (PSD), Rui Costa senador (PT) e o vice-governador sendo indicado por João Leão, que passaria a ser o governador da Bahia, é tida como imbatível.
O problema da desistência de Wagner não é ele, que pode muito bem continuar por mais um bom tempo como senador. A exigência, seguida por uma contínua pressão, vem do ex-presidente Lula, que parece não perdoar e nem esquecer a então declaração de Rui Costa. Assim que o líder-mor do lulopetismo deixou a cadeia, o chefe do Palácio de Ondina disse que as conversas com outros partidos não poderiam ficar condicionadas à defesa do “Lula Livre”, o que deixou Lula irritado.
Concluo dizendo que ACM Neto, que tinha tudo para ter um futuro político sem nevoeiro pela frente, assentado nos dois bons governos na prefeitura de Salvador, considerado como um dos melhores gestores do país, pegou o caminho errado.
Resta a ACM Neto torcer para que PT, PSD e PP não se entendam na formação da majoritária e, quem sabe, pegar a “sobra” do desentendimento. Do contrário, vai correr para ser o vice de Bolsonaro, obviamente com a ajuda dos dois presidentes do Congresso Nacional, Arthur Lira (PP) na Câmara dos Deputados e Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado da República.
PS (1) – A desistência de ACM Neto em concorrer ao governo da Bahia, como aconteceu na sucessão de 2018, vai provocar uma revolta incontrolável no netismo, principalmente em quem pretende disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara dos Deputados, mais especificamente nos candidatos à reeleição. Vale lembrar que no pleito passado vários deputados não conseguiram se reeleger em decorrência do recuo de ACM Neto, que acionou José Ronaldo (DEM), ex-prefeito de Feira de Santana, como seu substituto no processo sucessório. Cito como exemplo, bem simbólico, a não-reeleição do ex-tucano Augusto Castro para o Parlamento estadual. Castro, hoje prefeito de Itabuna, assim que terminou o pleito se filiou ao PSD do senador Otto Alencar, presidente estadual da sigla. Pré-candidatos a deputado estadual e federal pretendem ter uma conversa definitiva com o ex-alcaide de Salvador sobre à sucessão de Rui Costa. Caso percebam que o Neto está na dúvida em relação à disputa pelo comando do Palácio de Ondina, alguns deles podem ir para a base aliada do governador Rui Costa. Volto a repetir que se ACM Neto não fizer uma reflexão sobre seu futuro político, corre o risco de ficar a ver navios.
PS (2) – Se ACM Neto for o vice de Bolsonaro, que é o mais ilustre representante do MSP (Movimento dos Sem Partidos), deixa de ser “comunista”. Quem sabe até passe a ser chamado pelo bolsonarismo de raiz de “suplente de mito”.
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Marco Wense
Analista Político
*A análise do colunista não reflete, necessariamente, a opinião de Pauta.blog.br