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Itabuna: os desafios de ser mãe durante a pandemia da Covid-19

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Milhares brasileiros planejaram o nascimento de seus filhos no momento em que ninguém esperava o surgimento de um vírus capaz de modificar o modo de convivência no mundo. Entre as pessoas que realizaram o sonho da maternidade durante esta pandemia estão Deise Damásio, Isabella Fagundes e Fabiany Nascimento.

Em 2019, Deise Damásio, com apoio do marido, decidiu que tinha chegado a hora de ser mãe pela segunda vez. Ela afirma que tomaria a mesma decisão hoje. “Minha filha é um grande presente de Deus. Era um sonho da nossa família. Temos um desafio a mais porque ela nasceu prematura e precisou ficar internada”, conta.

Deise relata que o grande desafio não foi enfrentar a pandemia, mas acompanhar os primeiros dias de nascimento de Eloá. “Passei boa parte da gravidez trabalhando em home office (em casa) e tomei todos os cuidados, mas não fiquei assustada”, conta a moradora de Itapé, no sul da Bahia.

Eloá nasceu prematura, em julho de 2020, na 27ª semana, pesando 940 gramas (muito abaixo do peso considerado ideal). A bebê precisou ficar internada 53 dias em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Manoel Novaes. “Hoje, minha filha está bem, mas ainda fazemos acompanhamento com fisioterapeuta, pediatra e neurocirurgião”.

A PEQUENA LAURA
Quem também veio ao mundo em plena pandemia do novo coronavírus foi a pequena Laura. Ela nasceu quando Isabella Fagundes estava na 28ª semana de gestação. “Era o começo de uma pandemia, não sabíamos como lidar com o vírus ainda. O comércio estava fechado. Eu e meu marido ficávamos em casa imaginando nossa bebê conosco, mal sabíamos que isso ia acontecer o mais rápido possível”.

No dia 1º de maio de 2020, Isabella acordou perdendo muito líquido. “Fomos para o hospital já com dilatação. Não estava na hora ainda, pelo menos para mim. Mas para ela (Laura), era a hora certa. Ficamos quatro dias internadas e fazendo de tudo para certificar que ela estava bem e sendo preparada para vir ao mundo”.

Laura nasceu às 6h do dia 5 de maio, de parto normal, pesando 1,024kg. “Não pude tocá-la, tirar fotos e nem amamentá-la. Rapidamente eu a vi sem reação. Ela foi levada pela equipe para UTI Neonatal e lá intubaram. Quando fiquei naquela sala eu clamei a Deus pela vida da minha filha. Pedi com todo o meu coração e a ouvi chorar, foi ali que me encontrei novamente”.

A pequena Laura ficou 58 dias internada no Hospital Manoel Novaes. “Fui todos os dias visitar meu presente. Passei o Dia das Mães e meu aniversário com ela. Quanto foi difícil vir para casa e não tê-la em meus braços, sem receber visita de minha família. Quanto foi difícil imaginá-la naquela sala com infinitos bebês prematuros que tinham uma mamãe sofrendo e de coração grato como eu. Mas estava tranquila porque sempre confiei na equipe do hospital”, afirma.

Superado os momentos desafiadores, a mãe comemora a companhia da filha. “Passou um ano e hoje estamos aqui, felizes. Ela está com desenvolvimento perfeito e completo para idade. Esse ano passou voando. Quase como um flash, mas lembro de todos os momentos e sorrisos que conquistamos até aqui. Quero aprender e ensinar todos os dias. Obrigada, Laura, por ter me escolhido para ser sua mamãe e não desistir de lutar nenhum segundo pela sua vida. Amo-te!”, derrete-se Isabella.

ANA GABRIELA
Fabiany Nascimento também é mãe de um bebê prematuro, nascido com 32 duas semanas, com 1,3kg. O parto dela estava previsto para dezembro de 2020, mas Ana Gabriela Aguiar nasceu em outubro. Moradora de Camamu, no baixo sul da Bahia, ela teve dificuldade para fazer o pré-natal porque Itabuna já registrava um o número crescente de casos de Covid-19.

Mas, em um determinado momento, Fabiany passou a sofrer com pressão alta e, em setembro, estava no nível muito elevado. “Foi aí que descobriram que minha bebê estava tendo restrição de crescimento, com dificuldade de respiração. Durante uma consulta de acompanhamento, a médica percebeu que a situação tinha se complicado e que o parto deveria ser antecipado”, relata.

Após o nascimento, Ana Gabriela ficou 63 dias internada na UTI Neonatal. “No período em que ela estava hospitalizada, só a vi rapidamente quando nasceu. Foi um período muito difícil e só podia vê-la durante uma hora por dia. Revesava com meu marido, um dia eu, outro, ele. Meu coração ficava muito apertado porque era pouco tempo, mas sabia que minha filha estava sendo muito bem cuidada”, conta emocionada.

Fabiany afirma que, além do número de infectados e óbitos, a tristeza nessa pandemia é o isolamento, principalmente dos familiares. “Não sabemos por onde as pessoas andam. Quando planejávamos ter um bebê, imaginávamos que ele cresceria perto dos avós, bisavós, tios, de todo mundo da família. Mas logo percebemos que isso não seria possível, neste momento, por causa dessa pandemia. Isso vem sendo muito difícil”. Mesmo antes do início da pandemia da Covid-19, o Hospital Manoel Novaes já tinha adotado todos os protocolos para evitar a transmissão cruzada do vírus.

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